segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Vivendo no espanto






Viver espantado com tudo que acontece no aqui e agora, acho que seria o melhor remédio para todas as doenças.  Espantar-se com a natureza, com o planeta, com nosso corpo, espantar-se com essa experiência maravilhosa e única que é viver o agora.
Mas nos tornamos normóticos, aquele que sofre de normose, tudo é normal, não vemos mais graça em nada. Cada vez nosso olhar se torna mais limitado, vendo as coisas, sentindo tudo muito normal. Perdemos o encantamento, a alegria da busca, da descoberta, pois tudo está aí, da maneira como nos foi colocado, e nos esquecemos de fazer perguntas, pois nos deram as respostas pré-concebidas, na visão do outro. E passamos esse olhar distorcido das coisas através de gerações. Até quando? Até quando agüentaremos essa normose, estamos no limite, nós, o planeta e tudo que nos cerca. Está na hora de acordar e se espantar. Como pudemos viver tanto tempo assim, dormindo, com pequenos lampejos de lucidez, que eram imediatamente apagados pela doença de ser normal, de querer ser igual, de querer pertencer ao mundo imaginário, criado pelas nossas mentes doentias. E o que fazemos com a nossa vontade de arriscar e tentar ser diferente? Onde fica, em todo esse caos, a nossa essência? Onde fica a fé em nós mesmos? Então ficamos assim, meio morto e meio vivo. A chama interna quase se apagando, e pedindo por socorro. E nós vamos buscar esse socorro nas farmácias, anti-depressivos, remédios para dormir, para controlar a pressão, para reduzir a ansiedade, para funcionar melhor os intestinos, os rins, e por aí vai, cada vez mais enlouquecidos buscando remédios externos, sem contar a nossa ganância pelo ter, que não tem fim. 
E era só descobrir o espanto, o encantamento, o despertar desse sono insano.
Quando olhamos uma árvore, não enxergamos o milagre da semente. Alguém olha uma árvore e lembra-se da semente? Alguém quando se alimenta, olha e agradece o milagre da transformação? São tudo energias, elementos combinados, que existem para que nós possamos existir.
É um universo inteiro em sintonia, para que tudo seja experenciado nesse curto espaço de tempo que nos é dado. E o nosso olhar pequeno só enxerga o que não existe, cria outras realidades que nos fazem sofrer.
Somos atores convidados, para esse espetáculo único, que se desenrola a cada instante, cada um representando seu papel, cada um com sua importância, pois somos únicos, tenhamos consciência disso ou não. A nossa missão é desempenharmos bem esse papel, sem nos apegarmos ao personagem, pois a nossa participação é curta, mas marcante. Fazemos a diferença, influenciamos o desfecho, alguns mais outros menos, mas a responsabilidade é nossa. E que desfecho estamos dando a esse espetáculo? Será que não estamos transformando o lírico, o romance, a comédia, a fábula, num filme de terror? Está em nossas mãos. Agora somos os atores principais nesse exato momento. Veja qual o papel que lhe foi destinado, e dê vida a esse personagem, com seu encantamento, com sua ternura, sua essência, a sua verdade, pois só você sabe por que foi convidado. Desempenhe o seu papel, influencie os seus parceiros que nesse momento compartilham esse espetáculo com você. Podemos mudar esse final. Está em nossas mãos. Não se faz um grande espetáculo sem criatividade, sem amor, sem compaixão, sem entrar de cabeça no enredo. O palco está aí, os instrumentos também, tudo à nossa disposição. Só precisamos mudar nosso olhar, olhar com o olhar do bom ator, que sabe que naquele momento em que a cortina se abre, ele é a essência do personagem, mas ele nunca perderá a sua integridade, nunca deixará ser ele mesmo, pois quando a cortina se fechar, voltaremos para casa íntegros, inteiros, com a sensação do dever cumprido, deixando para  outras gerações a energia do bom combate, do bom desempenho, para que o espetáculo nunca termine,  só melhore, pois vamos passando o nosso bastão para novos personagens, novas histórias, novas sabedorias. Enquanto nos deixarmos abater pela normose, alguém está roubando a nossa cena, assumindo nosso papel que nos foi dado por amor e merecimento. Vamos assumir com toda nossa verdade e essência, não perdendo o foco e o fôlego, o resto se desenrolará como tem que ser. Esse é o momento, nem antes, nem depois, talvez a cortina se feche para nós, antes de acordarmos, aí descobriremos que perdemos a nossa grande chance.
Elisabete Parra
Professora de Yoga e Psicoterapeuta
Fone: (11) 7461-5124 – e-mail: beteparra@gmail.com








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