segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Treinando o olhar






Estava em Extrema numa casa que fica no alto de uma montanha. Lá de cima via a cidade, as pequenas propriedades, com suas cercas, estradas, animais, carros e, apesar de relativamente perto via tudo muito pequeno, como se fossem miniaturas.
Observando as casas, os prédios, pensava: quantos universos diferentes acontecendo ao mesmo tempo nesses lares: alegrias, angústias, medos. Para aquelas pessoas, naquele exato momento, tudo era muito real e muito grande, pois  estavam inseridas naqueles universos.
Ao mesmo tempo tudo também era muito pequeno observado a apenas alguns metros acima. Quantas preocupações, tristezas, aborrecimentos causamos, a nós mesmos e aos outros, por coisas tão finitas e tão pequenas. Tudo é uma questão do olhar, da nossa perspectiva, do zoom que colocamos em determinadas situações.
De vez em quando precisamos apertar o zoom para vermos a várias distâncias. Quanto mais nos distanciamos menos valor ou interesse aquilo nos causa.
Continuei treinando, olhava para cima, para aquele céu azul lindíssimo, algumas nuvens passeavam distraidamente, pássaros cruzavam, e então pensei no quanto os pássaros precisam treinar esse olhar. Eles possuem uma visão vasta do ambiente quando estão voando, e quando focam num determinado objeto/alimento pousam certeiros, depois voam novamente, livres, leves, pois eles sabem que precisam dessa visão ampla para encontrar outro alimento.
Ao meu lado passavam formigas, incansáveis, com seus “fardos” às vezes até maior que o próprio corpo. Cavavam um formigueiro, entravam naquele túnel escuro e saiam com o torrão, que parecia mais pesado do que elas mesmas. Como conseguiam? Teria um plano pré-estabelecido? Quem teria escolhido exatamente aquele lugar para a construção do formigueiro? Quanto mistério, e ao mesmo tempo tudo muito simples, somos esse grande formigueiro, e somos dependentes desse olhar, da importância que damos aos eventos.
Olhava para o céu, olhava ao redor, focava longe, focava perto, observava, sentia, divagava, refletia, e assim percebi que é como também sentimos a presença de Deus. Quanto mais perto o sentimos mais ele tem importância na nossa vida, mais o escutamos e o vemos em tudo.
Quanto mais distanciado o sentimos mais inatingível ele fica, quase como uma lenda, que alguém em algum tempo contou, e nós a recontamos às vezes, colocando um pouquinho da nossa experiência nessa lenda, e para alguns ficou tão distante, que só se lembram da lenda, nem a recontam mais, muito menos acreditam que podem fazer a experiência.
E nesse momento me dei conta, precisamos reinventar o zoom interno, para nos sentirmos mais próximos dessa unidade, desse Deus, dessa energia, que está no todo e no particular, é uma questão do olhar afinado, treinado, para conseguirmos mudar o foco, sempre.
Elisabete Parra
Professora de Yoga e Psicoterapeuta
Fone: (11) 7461-5124 – e-mail: beteparra@gmail.com

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